sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fernando Calhau, desenho





Confesso que o meu contacto mais directo com a obra de Fernando Calhau deu-se por altura das Convocações I e II realizadas no CAM há poucos anos, as instalações dele diziam-me pouco, mas observava atentamente sobretudo os cadernos onde Fernando Calhau desenhava incessantemente noite após noite, páginas e páginas a negro, e comecei por aqui a querer perceber mais e conhecer mais sobre esta busca incessante, e recentemente no CAM, na exposição de escultura dos anos 60, uma série de gravuras questionam a paisagem albergando um elemento aparentemente estranho, uma linha, que oscila ao longo da série e que me levou à introdução do elemento tempo, questões que me são próximas.
Durante a Convocação I e II deram-se algumas conversas e foram as palavras de Tomás Maia que mais absorvi apontando algumas delas "..partindo sempre do branco até chegar à penúltima mancha negra, todas as noites, anos a fio com o mesmo gesto. Debateu-se sempre sobre a pobreza do gesto Hominídeo, gesto originário da arte...dia mais noite presos no mesmo espaço, mas eu posso atravessar o espaço.. nós estamos numa cápsula, a cápsula permite-nos de dia vivenciar, a experiência da noite, o medo, o medo das Florestas...gesto originário da arte é uma experiência do tempo é uma transposição da noite, gesto que inicia constantemente a sua origem... a arte é resposta do humano a uma convocação especifica... gesto = gerir a morte, gerar vida... reenvio da obra para a sua origem e faz e refaz.. trata-se de inventar um testemunho, para um instante em que já não estaremos presentes..servem para tudo e para nada.. A arte -» originário, gere a vida,  -» funerário, gere a morte.. estão nos ritos funerários pré-históricos, os primeiros vistígios artisticos.. a obra de arte seria a exteriorização da alma.. separação total de si mesmo sem morrer...o segredo do artista é viver com uma convocação inata... Nascer perpétuamente. Ser sem fim..." o texto pode ser lido correctamente escrito e estruturado na publicação que saiu mais tarde, "Fernando Calhau Convocação Leituras" da Fundação Calouste Gulbenkian.

O Desenho de Fernando Calhau é me muito especial, a extensão de si no desenho e a sua busca dentro dele, o conhecimento ou o auto-conhecimento, a forma como o desenho pode emergir de nós como presença que vem do interior, o desenho enquanto acto intimo. Alberto Carneiro num dos seus textos diz "Sempre desenhei para me (re)conhecer e deixar fluir as energias do meu ser mais profundo. Só agora o sei, após ter desenhado o meu dentro e tê-lo projectado no fora dos tempos vivenciados como desenho. ...Todos eles são trabalhos sobre ideias, sobre a procura de alguma coisa que busco em mim e para a minha obra. São, de facto, a procura do (re)conhecimento de mim mesmo e da minha obra como projecção de imagens reflectidas no papel sobre o meu ser. Por isso, estes desenhos são espelhos através dos quais me vejo no outro lado de mim. São o espírito e o cosmos do que procuro na minha obra."
Fernando Calhau fez do desenho um acto constante, que tem um corpo denso na sua obra e que nos mostra o desenho enquanto território originário e inquiridor da arte.




Consultar: Passageiro Assediado, Assírio Alvim e Fernando Calhau Desenho 1965-2002, Colecção CAM/JAP F. C. Gulbenkian (textos e coordenação Nuno Faria) 

quarta-feira, 2 de junho de 2010

À luz da Sombra, Serralves

PELAS SOMBRAS

Documentário realizado por Catarina Mourão.
06 Mar - 13 Jun 2010

“Vem ver a pintura que estou a fazer. Um bocado grande, não cabe em museu nenhum. E tão pequena, tão pequenina que todos que passam por aqui nem dão por isso. Uma tela com forma esquisita. O que vale é que não é preciso esticá-la. Por si só, ela está sempre pronta a receber pinceladas, ventos, estações, chuva, sol....".
Quando eu tinha catorze anos levaram-me a ver um teatro de sombras. Chamava-se Linha do Horizonte e revelava o dia-a-dia de uma mulher, através de sombras projectadas num lençol branco. Essa experiência marcou-me profundamente. Lourdes Castro ficou conhecida como a artista que se ocupa de sombras. Passados vinte anos fui à Madeira conhecer a mulher por detrás daquela sombra. O que “ocupa” hoje Lourdes Castro?

Texto de apresentação ao documentário, Serralves
 
Este fim-de-semana apanhei o comboio bem cedo em Sta. Apolónia e lá fui eu e o Rui rumo ao Porto, ver a exposição antológica de Lourdes Castro e Manuel Zimbro que estava à nossa espera, desde Março, e no mesmo dia (29 de Maio) às 16h estava marcado o documentário Pelas Sombras, pensávamos nós, infelizmente o Serralves já não é o que era, e a falta de profissionalismo e respeito pelo espectador instalou-se, sem qualquer aviso prévio, o documentário foi suspenso e apenas nos disseram "também não tínhamos qualquer informação, lamentamos", depois disto resolvemos deambular pelo parque e quando subimos o monte falso de Francisco Tropa verificamos que estava vandalizado e abandonado, não podemos deixar Serralves sem passar pelo balcão e pedir o livro onde expressamos todo o nosso desagrado.
Quanto à exposição, para antológica deixa muito a desejar, sem falar que Manuel Zimbro foi reduzido a dois cantos, e nem sombras dos desenhos das sementes que tanto esperava encontrar.