terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore



O mundo é para quem nasce para o conquistar

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o q sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonhos génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génio-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas-,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo.
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta"

Álvaro de Campos, Tabacaria



Annie Leibovitz

Kate Blanchett

coisas de miúdos

 
aluno de 6 anos, durante uma aula de desenho sensitivo a partir do som:

1ª fase, o aluno deixa a folha em branco

2ª fase, o aluno realiza um desenho figurativo

3ª fase, peço ao aluno que feche os olhos e desenhe o que sente, o pesado e o leve, o cheio e o vazio que vai encontrando no som, "Arrisca Afonso!"

Afonso dirige-se ao lugar... fecha os olhos e muito compenetrado diz...

"Seja o que deus quiser!"  E lança-se no abismo :)





domingo, 26 de fevereiro de 2012

Jardim das Estórias


O Jardim das estórias é o novo atelier para crianças e que faz parte do projeto Arte.Educação. Ao longo de três horas debruçamo-nos sobre um conto português registado pela primeira vez em 1915 em Évora e rescrito por João Pedro Mésseder. Contruímos uma caixinha que se transformou no jardim da nossa estória e que pode ir crescendo e crescendo partindo do imaginário de cada criança como acontece com o nosso património imaterial quando contado e recontado.






imagens: Sofia Matos

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

El sol del membrillo, Victor Erice (1992)


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Dicionário do Doceiro Brasileiro

E para quem não sabe, pois é, eu gosto mesmo de livros mergulhados em antropologia e etnologia, sejam ficcionais, de investigação ou como este, Dicionário do Doceiro Brasileiro, com uma escrita fluída que nos leva para o séc. XIX no Brasil através da comida, que nos fala da revolução à mesa, com a descoberta da especiaria que nos fez reinventar a sobremesa na Europa, o açúcar.
Graças a Raul Lody, carioca antropólogo, chega-nos este livro às mãos que se passeou por volta de 1892 nas livrarias brasileiras com a assinatura do Dr. Antonio José de Souza Rego. Ao longo das suas páginas encontramos 940 receitas que se transformam na história do Brasil, sentimos o cheiro e o sabor trazidos pelos colonizadores portugueses, pelos escravos africanos, e as pitadas da imigração italiana, alemã, japonesa, siria e sem nunca esquecer o cruzamento com a culinária nativa, a dos indios.
Raul Lody brinda-nos com um texto rico "Doce Comida" e levanta o véu de um outro livro que acaba por me seduzir Açúcar de Gilberto Freyre de onde saiem excertos como...

Perícia quase rival das rendeiras. Tais doceiras, como artistas, não consideravam completos seus doces ou seus bolos, sem os enfeites [...] sem assumirem formas graciosas ou simbólicas de flores, bichos, figuras humanas [...] em que as mãos das doceiras se tornassem, muito individualmente, mãos de escultoras [...] quitutes e doces, ingenuamente enfeitados com flores de papel cortado, anunciando uma confeitaria que constituem talvez a única arte que verdadeiramente nos honra.

tapioca molhada, o beiju, o doce de coco verde, o sabongo, a cocada