quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Monsanto. Residência Artística



 Quase quase... de mochila às costas...

O Centro de Residências Artísticas na Aldeia Histórica de Monsanto coordenado pela GALERIA FANTASMA procura organizar e produzir o desenvolvimento de projectos artísticos transdisciplinares (com ênfase nas artes sonoras, vídeo, performativas e fotografia), seguidos de apresentações públicas na aldeia e na respectiva região.
Os artistas convidados, no âmbito do desenvolvimento dos seus projectos artísticos, são encorajados a estabelecerem interacções profundas com o local, seu espaço geográfico e social, identidade e memória.


Monsanto. 1940.
 

GALERIA FANTASMA. Aldeia Histórica de Monsanto.
O Centro de Residências Artísticas da Galeria Fantasma na Aldeia Histórica de Monsanto seleccionou os seguintes Artistas para a 1ª Edição:

Claúdia Ramos
Rui Dias Monteiro
José Diogo Castiço
Pedro Guimarães
Tilde Engstrøm
Miguel Børsting
Takashi Sugimoto
Yuka Takao
Fernando Roussado
Sara Bichão
Dana Lale


Datas:
Setembro a Dezembro de 2012. Período de Residência.
Fevereiro a Março de 2013. Período de Exposições.


Galeria Fantasma

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Festival FUSO sobre rodas


Arranca hoje.
Abertura no espaço BES Arte e Finança, 19.00 horas.
Um dia, um programador/curador: Nuno Crespo, Dalia Levin, Françoise Parfait, Isabel Nogueira, Jean-François Chougnet, João Laia, José Drummond e Solange Farkas.
Apareçam e divirtam-se.
 
 

domingo, 12 de agosto de 2012

Nydia Negromonte na 30ª Bienal de São Paulo


Este ano o pavilhão da Fundação Bienal de São Paulo, no Parque Ibirapuera recebe entre diversos artistas Hugo Canoilas, artista plástico português e Nydia Negromonte, que destaco hoje aqui. A 30ª Bienal está sob o titulo "A Iminência das Poéticas" e conta com a instalação "Hídrica: Episódios" da artista brasileira, a instalação irá estender-se à Casa Modernista, à Capela do Morumbi e ao Masp.

"O trabalho vai tornar visível o fluxo da água, será um desenho do invisível"  N.N.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

João Maria Gusmão e Pedro Paiva até 31 de Agosto na ZDB

João Maria Gusmão + Pedro Paiva, 3 Sóis, 2009. Filme 16mm, cor, sem som, 0’50’’.

João Maria Gusmão + Pedro Paiva, O cavalo do profeta, 2011. Filme 16mm, cor, sem som, 2’02’’.




10.000 coisas - filmes recentes em 16mm



GALERIA ZÉ DOS BOIS
Rua da Barroca, 59
1200 LISBOA

13 ABR - 31 AGO 2012

O trabalho de Gusmão e Paiva apresenta características formais e de conteúdo que remetem para a época inicial da história do cinema. Este diálogo com o passado inclui a fase muda do medium (“early cinema”) mas também o período que antecede a sua invenção durante o século XIX. Esta época embrionária é marcada pela coexistência de uma série de mecanismos cinemáticos como a lanterna mágica, cujos antecedentes remontam ao século XVI, a câmara obscura, ou o fenacistoscópio, que partilham a capacidade de reproduzir imagens em movimento e, em simultâneo, a utilização de avanços científicos, especificamente na área da óptica, da química e da mecânica, que foram redirecionados para a criação de situações irreais, ilusórias e mágicas. A fotografia, antecedente do cinema, foi também utilizada para fins semelhantes: Daguerre associou processos fotográficos à câmara obscura para produzir uma variação do Diorama. Do mesmo modo, as experiências de Marey e Muybridge também podem ser entendidas como exemplos da coexistência entre elementos reais e ilusórios. Este diálogo entre ciência e magia continua durante a sistematização do cinematógrafo onde se encontra uma produção dividida entre trabalhos naturalistas, como a produção dos irmãos Lumière, e obras mais fantasiosas, onde Méliès, um ilusionista, era figura central. Ambas as vertentes da cinematografia deste período, apesar das suas diferenças, eram encaradas pelo público como atrações fantásticas. O fluir da imagem em movimento e a escuridão do contexto de recepção criavam um ambiente espectral que maravilhava multidões, independentemente do seu conteúdo. A este efeito junta-se ainda o fato da exibição de filmes nesta época ser realizada em espaços e sessões onde se mostravam outros espectáculos de variedades e magia. O cinema era tratado como uma das atrações extraordinárias disponíveis em feiras e teatros.


Os filmes de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, exibidos em 10.000 coisas retêm este hibridismo entre ciência e magia, uma característica que advém da Abissologia – ciência transitória do indiscernível – que o trabalho da dupla explora e interroga. O primeiro filme exibido nesta exposição-sessão é Benguelino a lançar um feitiço na câmara (2011) onde o mágico encanta o aparato. A partir desse momento a câmara torna-se ‘barco com olhos pintados na proa’, e acompanha a dupla na sua busca, documentando a eclosão real-imaginada ‘de novas espécies de existência’. A magia de Bengalino prolonga os seus efeitos no espectador, que, tornado também ele objeto do feitiço, acompanha os artistas na sua investigação do Abismo. Bengalino a lançar um feitiço na câmara torna-se farol da experiência Abissológica, híbrido de magia e ciência, ritual e experiência. Os restantes 11 filmes movimentam-se neste campo de voo e precipício. Gusmão e Paiva analisam o banal e/ou quotidiano à procura de um eco de magia e debruçam-se sobre o exótico procurando um outro tipo de conhecimento e realidade. Tornado de esparguete (2010) ou Rodas (2011) são resultado da câmara enfeitiçada-feitiço. Os filmes recuperam a magia do quotidiano, possível de documentar e observar no interior da exploração Abissológica. Sob a lente da dupla, o detalhe mais insignificante é tornado acontecimento extraordinário, incorporando uma dimensão onírica sem perder nenhuma da sua vulgaridade. A sobreposição de imagens de uma fábrica de esparguete, traz à memória experiências cinematográficas dos anos 20 de Viking Eggeling, por exemplo, enquanto desenha, simultaneamente, um cenário de fição científica, um mundo de futuro onde a magia e o indominável estão por toda a parte e à vista de todos. A produção deste filme na Catânia, cidade da Sicília, assinala ainda a sua pertença à linhagem de trabalhos como A Grande Bebedeira (2007) onde se encontra uma componente etnográfica que se conjuga com uma linha ritualista e simbólica. Burro (2011), documentário fantástico onde o mundo se suspende à passagem do animal, abre outras possibilidades num campo infinito de aberturas.


A velocidade dos filmes de Gusmão e Paiva, mais lenta do que o habitual, dota as imagens de uma dimensão única, híbrido perdido entre imobilidade e movimento. Deste modo a produção da dupla pode ser lida como um exemplo paradigmático do que Raymond Bellour chama de ‘o fotográfico’, um momento entre a suspensão da fotografia e a animação ilusória do cinema: “no movimento é aquilo que interrompe, que paralisa; na imobilidade talvez lembre a sua impossibilidade relativa”. ‘O fotográfico’ é uma figura de puro potencial que se desloca na temporalidade fluida de Aion ao invés da progressão linear de Chronos [1]. É este sistema fluido que permite a exploração dos preceitos Abissológicos. Desta forma o medium torna-se parte integrante da análise da dupla. A aproximação destes trabalhos com o conceito de Bellour é também sublinhada pela sua apresentação num contexto de sessão, ao contrário do formato habitual de instalação. Neste ambiente a dimensão escultórica do projetor, e das outras peças que habitualmente habitam as suas apresentações, é transferida para a tela, onde se glorifica o esculpir de luz e sombra no interior do moldar do tempo. O som do projetor torna-se parte da escultura, índex invisível da mecânica responsável pelo movimento ilusório. A apresentação neste contexto próximo do auditório, e a transferência do objeto-aparato para uma situação de pouca visibilidade, sublinha ainda a importância da imagem e a hipótese de um posicionamento auto-reflexivo diferente dos contextos de instalação. Aqui investe-se na possibilidade de ilusão. A investigação da imagem na instalação, através da exibição do aparato de reprodução, é substituída por uma presença mais forte do elemento onírico, quebrado regularmente pelo som do mecanismo. O projetor ventríloquo, imagem recorrente da obra dos artistas, é sublimado. A ciência continua presente mas o oculto ganha um novo lugar de destaque. A apresentação em auditório consegue um balanço Abissológico inédito entre movimento e imobilidade, visível e oculto, vida e morte, entre a ilusão do ecrã (a magia) e o realismo da máquina (a ciência).


O interesse de Gusmão e Paiva no mecanismo do cinematógrafo, instrumento científico-ilusionista de mediação entre mundos e tempos diferentes, parece ter atingido uma etapa em 10.000 coisas e ter iniciado um novo ciclo na exposição inaugurada em Maio na Kunsthaus Glarus, Suíça. Em Glarus mostram The Corner Edges Of Objects Appear Rounded At Faraway Distances (2012), uma câmara obscura que constitui a sua primeira incursão no universo para-cinemático. No cinema analógico bem como nos mecanismos pré-cinemáticos, ao visível corresponde sempre o invisível: para toda a luz presente existe sempre um lugar para a sombra ausente, e vice-versa. Encontra-se assim o aparato ideal para a análise Abissológica, um instrumento que é construído a partir de pólos antagónicos e que possibilita a pesquisa de diferentes modos de observação, interpretação e representação, possivelmente incoerentes, e, logo, relevantes e essenciais. A aproximação do trabalho da dupla aos primórdios do cinema é, assim, resultado do seu interesse em expandir formas estáveis de conhecimento, e em explorar caminhos antagónicos e simétricos. As 10.000 coisas são ilimitadas e singulares, e o aparato cinemático é a bússola magnética capaz de navegar estes mistérios vulgares e extraordinários, o instrumento Abissológico por excelência.




NOTAS

[1] Raymond Bellour, “Concerning ‘the Photographic’”. In: Karen Beckman e Jean Ma (eds), Still Moving. Londres e Durham: Duke University Press, p. 253

João Laia

fonte: artecapital