(COM VÍDEO) Tudo acontece num terraço com
vista para a Assembleia da República, em Lisboa: a cineasta Raquel Freire está a
queimar a película de uma das cópias do seu primeiro filme, 'Rasganço' (2001). É
uma "forma de protesto radical", admite a realizadora. Um protesto contra a
extinção do Ministério da Cultura, contra a suspensão dos apoios às artes,
contra a paralisação imposta ao cinema português.
Ao longo de dez dias (de 10 a 19 deste mês), vai colocar na Internet os
vídeos desta queima que não é apenas simbólica: "Para mim, este protesto é tão
doloroso como uma greve de fome. Mas o momento que vivemos exige isto. Ser
artista é uma questão existencial para mim. Fazer filmes é o que eu faço. E eu
não emigrar, não vou desistir. Por isso tenho que resistir."
Escolheu 'Rasganço', a primeira longa metragem de sua autoria, porque é o seu
filme mais emblemático, que teve impacto não só no meio cinematográfico mas
também no meio académico de Coimbra, que retratou no filme. "Hoje em dia seria
impossível fazer este filme", diz.
O vídeo que é colocado todos os dias na Net é acompanhado por um pequeno
texto no qual a cineasta explica que, historicamente, a crise sempre foi usada
como desculpa para calar os artistas "porque perturbam, fazem pensar,
questionam".
A ideia de queimar obras de arte partiu de um grupo de artistas que se
intitulam "art protesters". Até agora, o movimento contou com o
"sacrifício" de João Galrão, João Vilhena e João Bacelar. "Andávamos a falar
nisto há mais de um ano, como poderíamos fazer-nos ouvir, porque, apesar de este
ser um país de brandos costumes, é preciso reagir", explica Raquel Freire.
"Queimar uma obra de arte é uma metáfora do que está a passar. Ao extinguir a
cultura está-se a suprimir a identidade de um povo."
fonte: DN
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