terça-feira, 31 de dezembro de 2013

sem teorias, uma tinta preta é apenas uma tinta preta

Ver algo como arte exige nada menos do que isso: uma atmosfera de teoria artística, um conhecimento da história da arte. Arte é o tipo de coisa que depende, para sua existência, de teorias; sem teorias, uma tinta preta é apenas uma tinta preta e nada mais. [...] Mas é óbvio que não poderia haver um mundo da arte sem teoria, pois o mundo da arte é logicamente dependente da teoria. Assim, é essencial para o nosso estudo compreender a natureza de uma teoria da arte, que é algo tão poderoso que pode separar objetos do mundo real e fazer com que sejam parte de um mundo diferente, um mundo da arte, um mundo de coisas interpretadas.

Danto, A transfiguração do lugar-comum, p.44

sábado, 28 de dezembro de 2013

SÁBADO / 28 DEZ / 18.30H / ATOUGUIA DA BALEIA_PENICHE


Miguel Curado - guitarra, percussão
Paulo Chagas - flauta, clarinete
Paulo Curado - flauta, saxofones
Ricardo Jacinto - violoncelo
...
MUSICA AO OCASO #7
Entrada Livre

Casa da Tauria
Largo Nossa Senhora da Conceição, 1
Atouguia da Baleia
Peniche - Portugal


http://casadatauria.wix.com/casa-da-tauria

Organização: MIA Movimento Cultural 

da minha estante...


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Merzbau

Merzbau, também conhecida por Catedral da Miséria Erótica, pertence ao Construtivismo Russo e ao seu legado projetual. Uma obra entre a arquitetura e a instalação, da autoria de Kurt Schwitters.

Considerada por muitos a primeira instalação, surge em Hannover, terra natal de Schwitters, construída aproximadamente entre 1923 e 1937, da qual apenas nos restam três fotografias. Vem a desaparecer em 1943 num bombardeamento dos Aliados.
Schwitters realizou no entanto quatro construções destas, ao longo da sua vida, cada uma num dos lugares onde morou. A contrução de Hannover, a de Lysaker (1937-1938) que fora acidentalmente incendiada por crianças em 1951, a de Hjertoy (1934-1939) descoberta em 1993 e da qual apenas restavam fragmentos, e por fim a de Ambleside (1947-1948) que estava apenas no começo, de todas a de Hannover fora a mais documentada.

O atelier era o espaço base da Merzbau, e os materiais resíduos urbanos, colagens e esculturas. Dos tetos e paredes iam surgindo planos rebatidos num ato constante, uma construção de um espaço interior de formas plásticas e de cores, resultando em inúmeros recantos, grutas e nichos onde eram introduzidos "despojos e relíquias" que aludiam a outros artistas. Existiam grutas dedicadas a Hans Arp, Theo van Doesburg, Lissitzy, grutas de Goethe, grutas dedicadas a ideias abstratas e uma gruta do amor. Era uma obra em constante transformação, com uma natureza própria e que colocava sobre a mesa questões como a dinâmica do pensamento e do processo em ação, na obra do artista, num gesto aglutinador.

"É uma escultura à qual se pode ir e voltar" diz Schwitters.



1933, Merzbau em Hannover por Wilhelm Redemann

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Esculpir o Tempo


A imagem é indivisível e inapreensível e depende da nossa consciência e do mundo real que tenta corporificar. Se o mundo for impenetrável, a imagem também o será. [...] Enquanto observação precisa da vida, a imagem nos traz à mente a poesia japonesa. Nesta o que me fascina é a recusa em até mesmo sugerir a espécie de significado final da imagem, que pode ser gradualmente decifrado como uma charada. Os haicai cultivam suas imagens de tal forma que elas nada significam para além de si mesmas, ao mesmo tempo que, por expressarem tanto, torna-se impossível apreender o seu significado final. Quanto mais a imagem corresponde à sua função, mais impossível se torna restringi-la à nitidez de uma fórmula intelectual. O leitor dos haicai deve incorporar-se a ele como à natureza, deve mergulhar, perder-se em suas profundezas como no cosmos, onde não existem nem o fundo nem o alto.


(…)
  A interação de conceitos jamais poderá ser o objectivo fundamental da arte. A imagem está presa ao concreto e ao material e, no entanto, ela se lança por misteriosos caminhos, rumo a regiões para além do espírito - talvez Pushkin se referisse a isso quando disse que «A poesia tem que ter um quê de estupidez». [...] Vejo então que a minha tarefa profissional é criar o meu fluxo de tempo pessoal, e transmitir na tomada [no take] a percepção que tenho do seu movimento - do movimento arrastado e sonolento ao rápido e tempestuoso - que cada pessoa sentirá a seu modo. Juntar, fazer a montagem é algo que perturba a passagem do tempo, interrompe-a, e, simultaneamente, dá-lhe algo de novo. A distorção do tempo pode ser uma maneira de dar expressão rítmica. Esculpir o tempo!


TARKOVSKI, A., Esculpir o Tempo, 2ª ed., trad. de Jefferson Luiz Camargo, São Paulo, Martins Fontes, 2002, pp. 123-124;  e 144.