quinta-feira, 25 de agosto de 2011

XXXVI. para transformar

_______ sempre que o fotógrafo vem, depois de tentar várias posições, tira uma fotografia. Revela depois a figura apreensível do plátano,              a mulher de braços abertos cujos ramos, principalmente dois, apontam setas para fora das margens; são perturbantes os rodeios do fotógrafo à volta do tronco, chove com placidez, e ele procura, para disparar o olhar da máquina, abrir uma brecha na secura. Por fim, a imagem torna-se fixa, e um desenho orientado para formas vulneráveis de mulher (híbrido de vegetal natureza) fica presente.

     A mulher poderia ter sido desenhada por um trovão iracundo que a esmagasse na rocha, ou banhasse na fonte; poderia ter sido levantada da fotografia pelas patas de um corvo que partiu depois dela; poderia ter sido transformada em líquido pelas poucas gotas de água que infundiu; poderia ter-se fechado em livro e arrumar-se, andando sobre as folhas, na biblioteca.              Mas o facto é que as folhas do cimo eram de uma maciez incontornável e, se o plátano viesse já a florir, o que não estava excluído no pátio dos milagres das imagens,

a mulher quereria ser retida,

retida, sem mais nada,

retida ­­________ pelo imparável disparar da máquina do fotógrafo.





AMIGO e AMIGA curso de silêncio de 2004
Maria Gabriela Llansol

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