quinta-feira, 24 de março de 2011

OSTRA - Projecto Teatral, Espaço Avenida



por:

João Rodrigues, Maria Duarte, Helena Tavares,
André Maranha e Gonçalo Ferreira de Almeida


(Trabalho apoiado pelo MC / DGArtes e pela
Fundação Calouste Gulbenkian)

de:

17 de Março a 2 de Abril, 22h/23h
Rua Rosa Araújo, 15 (espaço avenida),

914 038 500 / 919 699 976

Projecto Teatral

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um modo de olhar para as coisas, Peter Zumthor

" Quando penso a arquitectura, as imagens apropriam-se da minha mente. Muitas delas estão ligadas à prática e ao ofício de arquitecto. Contêm o conhecimento profissional que venho acumulando ao longo dos anos. Outras têm a ver com a minha infância. Tempos houve em que experimentei a arquitectura sem pensar nela. Por vezes, na minha mão, quase posso sentir o puxador de porta específico, um pedaço de metal em forma do dorso de uma colher.

Costumava mexer-lhe quando ia para o jardim da minha tia. Este puxador permanece como um sinal singular de entrada para um mundo de diferentes predisposições e cheiros. Recordo o som da gravilha sob os meus pés, o brilho doce da escada de carvalho encerada, consigo ouvir a porta da frente fechando-se pesada atrás de mim, enquanto caminhava ao longo do corredor escuro e entrava na cozinha, a única divisão da casa verdadeiramente iluminada.

Recordando-a, dá a impressão de ser também a única divisão da casa em que o tecto não desaparecia no crepúsculo, os pequenos mosaicos hexagonais do pavimento, vermelhos escuros e tão ajustados entre si que as juntas eram quase imperceptíveis, sentia-os duros e inflexíveis sob os meus pés, e o cheiro a tinta de óleo brotava do guarda-louça da cozinha.

…. Quando projecto um edifício, é frequente encontrar-me dentro de velhas memórias já quase esquecidas. De imediato, procuro precisar a lembrança dessa situação arquitectónica, qual o sentido que para mim tivera nesse tempo, e tento pensar como pode agora ajudar-me a recriar essa atmosfera vibrante, saturada pela simples presença das coisas, na qual tudo tinha o seu lugar e forma especificas. E, apesar de não conseguir traçar quaisquer formas especiais, há uma sugestão de plenitude e riqueza que me faz pensar: “já vi isto antes”."