quinta-feira, 25 de agosto de 2011

XXXVI. para transformar

_______ sempre que o fotógrafo vem, depois de tentar várias posições, tira uma fotografia. Revela depois a figura apreensível do plátano,              a mulher de braços abertos cujos ramos, principalmente dois, apontam setas para fora das margens; são perturbantes os rodeios do fotógrafo à volta do tronco, chove com placidez, e ele procura, para disparar o olhar da máquina, abrir uma brecha na secura. Por fim, a imagem torna-se fixa, e um desenho orientado para formas vulneráveis de mulher (híbrido de vegetal natureza) fica presente.

     A mulher poderia ter sido desenhada por um trovão iracundo que a esmagasse na rocha, ou banhasse na fonte; poderia ter sido levantada da fotografia pelas patas de um corvo que partiu depois dela; poderia ter sido transformada em líquido pelas poucas gotas de água que infundiu; poderia ter-se fechado em livro e arrumar-se, andando sobre as folhas, na biblioteca.              Mas o facto é que as folhas do cimo eram de uma maciez incontornável e, se o plátano viesse já a florir, o que não estava excluído no pátio dos milagres das imagens,

a mulher quereria ser retida,

retida, sem mais nada,

retida ­­________ pelo imparável disparar da máquina do fotógrafo.





AMIGO e AMIGA curso de silêncio de 2004
Maria Gabriela Llansol

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ana, 1984

Jaime, 1974

António Reis, Programas Curriculares

[Mestre na ESTC]

1. A IMAGEM

1.1 Imagem: polissemia do termo. A imagem icónica. Campo e fora-de-campo: escolher é eliminar. A imagem rectangular não é universal. A tecnologia condiciona a imagem.

1.2 A representação da profundidade.
A imagem, um simulacro. Sistemas de representação não ocidentais. A perspectiva renascentista. A superfície plana como espaço autónomo.

1.3 O trabalho da luz. Fontes físicas – fontes místicas de luz. A organização do espaço como elemento narrativo.

1.4 O instantâneo: uma nova maneira de observar. A fotografia “directa”. O olho móvel e disponível.


Sumário da primeira unidade didáctica da cadeira de “Introdução ao Estudo da Imagem”, do 1.º ano do Curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema (Lisboa). Esta primeira unidade era da responsabilidade de António Reis.
É provável que este esquema base, ainda que com maior desenvolvimento, se repetisse em outras cadeiras leccionadas por António Reis.

***

«Quanto aos programas [curriculares] do António… eram sempre três linhas… Tentei várias vezes convencê-lo a desenvolver os planos de estudo dele, mas não consegui. Dizia-me sempre “isto chega perfeitamente”. (…) A ideia de fazer programas era pôr em causa a sua própria liberdade de “inventor de ensino”, e, portanto, recusou-se sempre a fazer um programa pormenorizado, fugindo completamente às normas».

«magistério intempestivamente oral»

«Embora tenha sido há bastante tempo,
lembro-me de uma pequena folha A4 com quatro pontos
que materializavam o programa que ele organizava num esquema,
e depois era seguido».

Alberto Seixas Santos,
José Bogalheiro
e Pedro Costa
(respectivamente)



in Moutinho, Anabela; Lobo, Maria da Graça (org.)
- António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra, p. 55, 57 e 64,
Cineclube de Faro, Faro, 1997."


Fonte