quarta-feira, 18 de junho de 2014

Momento I de Andrea Brandão para a Arte Capital




Fig. 1 – Exposição Momento I, vista parcial. Espaço Arte Tranquilidade. Fotografia de João Grama

Fig. 2 – Exposição Momento I, pormenor. Espaço Arte Tranquilidade. Fotografia de João Grama

Fig. 3 - Exposição Momento I, vista parcial. Espaço Arte Tranquilidade. Fotografia de João Grama

Fig. 4 - Exposição Momento I, pormenor. Espaço Arte Tranquilidade. Fotografia de João Grama


ANDREA BRANDÃO

MOMENTO I




ESPAÇO ARTE TRANQUILIDADE
Rua Rodrigues Sampaio, 95
Lisboa

15 MAI - 25 JUL 2014


“Provavelmente, tudo e todos – e nós mesmos – não somos senão sonhos imediatos da divina Matéria: Os produtos textuais da sua prodigiosa imaginação”.
Francis Ponge, Nova Recolha, 1963.


A primeira vez que experienciei o seu trabalho foi neste mesmo lugar.

Andrea chegava antes das portas se abrirem ao público, de mochila às costas, trazia a matéria que dava corpo à sua peça, A Cidade de Tecla, que se erguia das ruinas em frente aos nossos olhos e por entre as suas mãos.

Seis anos depois, volto a subir o mesmo degrau, coloco os pés sobre o tapete, piso o chão, mas já não existem as ruinas de uma cidade que nunca cessou de ser construída. Nesse mesmo chão está agora a Guarda que delimita o espaço, como se nos preparasse para algo que está prestes a acontecer ou a acontecer. Ali ao lado, na vitrine, espera-se por postais que Andrea há-de enviar de São Paulo, uma correspondência, o que gera um gesto tautológico, talvez um dos primeiros, ou últimos, neste espaço intersticial que é o Momento I.

Vou até George Steiner quando diz que “A ‘resposta’ suscitada pelo questionar autêntico é uma correspondência”, volto e percorro a exposição, só percorrendo a exposição é que podemos perceber isto.

Cada peça parece que nos devolve sempre uma pergunta, que nos questiona. Para começar o facto de claramente o observador ser implicado assim que pisa aquele tapete, depois a forma como a guarda nos questiona e se relaciona com o nosso corpo, a perceção e aproximação ao varão de madeira, a descoberta do Trompe L’oeil, num subtil desdobramento da própria marca do tempo no lugar, uma sobreposição de tempos, depois o corpo do observador que é tornado reflexo sobre a profunda imagem negra. Todo um percurso que se relaciona com o corpo e o espaço, afinal o nosso corpo é a medida de compreensão do espaço, e aqui o espaço não é condicionamento, nem tão pouco um mero receptáculo, mas parte integrante de um diálogo. Cada peça está intimamente relacionada com aquele lugar e com a experiência da artista, dentro e fora dele.

O processo criativo é algo que suscita sempre interesse. O discurso desenhado revela-nos uma espontaneidade sincera e comovida, o resultado do tal questionar autêntico, do uso das suas experiências e de tudo o que habita em torno da artista como potência, uma situação, uma palavra, um filme, um livro, tantos são os elementos que podem polinizar uma obra de arte.

A arte evolui com a vida, e a prática do ofício traz a consistência, fortalece o artista, e torna-o mais háptico. Assim se sente no discurso que tem vindo a desenhar. Um discurso que não se fixa numa disciplina concreta, mas que permite o claro voo para novas possibilidades, Gromaire diz que a beleza é a perfeita adaptação dos meios ao fim em busca.

O Momento I é um espaço intersticial, contém em si a consciência do tempo, o inacabado, o gesto sobre o espaço, a fotografia, e claro a performatividade.


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Cláudia Ramos
Artista Plástica e Curadora Independente




Cláudia Ramos


fonte

sábado, 7 de junho de 2014