segunda-feira, 24 de maio de 2010

As Aulas do Professor António Reis, Testemunho de Joaquim Sapinho


"Como o António morreu tão depressa, o que eu sinto é que nos encontrámos mesmo por um triz. Podia não o ter encontrado... e ao sentimento de perda junta-se a alegria de, afinal, nos termos encontrado, vivos, sobre esta terra. Penso que este sentimento já é um pensamento reisiano, por causa da tensão dos contrários, por causa da intensidade irresolvida que é a própria vida.
O António foi meu professor na Escola de Cinema, que era no Conservatório, no Bairro Alto, na segunda metade da década de 80 do século XX. Mas as aulas não se passavam apenas nas salas do antigo convento (transformado em conservatório de música e de teatro por Garrett e, quando nós por lá andámos, em escola de cinema...) porque o António podia dizer: hoje vamos ao jardim (do Príncipe Real) e passávamos a tarde a estudar a árvore de borracha ao vento e à luz...a sua vida, a sua história, a sua relação com o mundo. E as aulas continuavam sempre depois das aulas, a passear, na livraria Buchholz a ver livros de pintura, na Cinemateca. As aulas não tinham fim, a vida, o pensamento, a amizade coincidiam com o cinema. Filmar era um contínuo, fazer um filme era tão decisivo como a vida, porque era a mesma coisa. Como se vê pelo Jaime, o António é um cineasta muito preocupado com a história e com a memória, com os documentos, com o que desapareceu, com o que vai desaparecer. Como se fosse um real alucinado por causa da história e da destruição e da reconstrução da história. Mas ao mesmo tempo no Jaime o real é um real totalmente ali, só existe o ali, o imanente, e só existe através das pessoas e das coisas. Portanto, pensar os filmes e fazer os filmes era uma luta com o real, não podia ser colado sobre o real para se poder filmar. Fazer um filme, encontrar um filme, era uma coisa que não se sabia o que era - antes de se fazer. Era uma aventura, não havia nenhum mapa que nos pudesse guiar. Tinham que ser ideias que para serem filmadas quase nem podiam ser nossas quanto mais de outras pessoas ou de livros ou assim... Era um risco, mas tinha uma regra.
O António gostava do Rilke, e eu acho que ele também acreditava que toda a beleza é terrivel. E era muito comovente estar com ele e trabalhar com ele por causa disso, porque não era a beleza pela beleza, mas não podia haver nada sem a beleza.
Vê-se por este texto que eu continuo a falar muito com António. Mas a comunidade dos vivos e dos mortos está no coraçao do pensamento reisiano..."

Testemunho recolhido e editado por Sónia Ferreira, Catalogo Panorama 4ª Mostra do Documentário Português 2010

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O livro negro das cores

Menena Cottin e Rosana Faria



Hoje estava a tirar o pó da estante quando olhei para este livro e pensei que deveria falar dele.
Comprei-o em Março, foi premiado com o mais prestigiado prémio de literatura infantil "Os Novos Horizontes - Bologna Ragazzi" pela extrema sensibilidade que transporta. As ilustrações são negras com relevo e a história fala sobre um menino chamado Tomás, que vê o mundo de outra forma, diferente para muitos e "igual" para outras crianças como ele. Tomás descreve cada côr como ele a "vê", descreve para o menino que vê e para o menino que não vê.
Publicado em Portugal pela editora Bruaá é um livro para usar todos os sentidos e que nos confronta com outra forma de leitura.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sem rede escrevo, Sexta-feira, 2 de Abril de 2010 às 1:37

Encontrei o texto que se segue entre as notas do facebook da Andrea Brandão e não consegui "deixa-lo para trás" sem catrapisca-lo para aqui...


Sem rede escrevo

"A arte de fazer zaping ou zaping como arte, venha o diabo e escolha. A melhor abertura de texto para descrever uma visita às peças expostas no Centro Cultural de Belém da autoria de J.Vasconcelos. Mas estará de acordo com os tempos que correm. Assim como estará o o texto que se escreve. "sem rede", assim se intitula. Expressão usada aqui com duplo sentido, mas que não chega além do duplo e aquém do sentido fica. O que se quer são multiplos. Demasiadas piscadelas de olhos,demasiado folclore popular, demasiada portugalidade, tudo em bom e em esteriótipo (demasiado matrafão). Primeira observação: Qualidade digital em ecrã LCD 100 polegadas. Os miudos adoram porque se pode tocar, dizem-me. Mas só em algumas peças porque noutras POR FAVOR NÃO TOQUE; Please don't touch, Veulillez ne pas toucher (De nada). O efeito deslumbrante-uau dura-me apenas um segundo em todas as peças. Mais do mesmo (e os visitantes que são muitos) e começo a sentir náuseas. O efeito retrospectivo não me caiu muito bem. Criatividade para dar e vender e habilidade com os materiais e às tantas, vejo tipo um concurso Tv "Bricolage, concurso de ideias, para transformar (diferente de usar) objectos utilitários em arte". Sim, arte. Pois tudo o que não se sabe o que é, é arte. o resto é design (as formas contidas pela rede de croché tinham grandes hipoteses - Puffbags). Imposto agora este tom meio sério, meio a brincar com meio sentido escrevo: Por isso ainda continuo a gostar da "noiva" feita com tampões OB (sem aplicador, ainda por usar, mas já sem o plástico higiênico protector) da marca americana Johnson & Johnson, em forma de candelabro. (Talk about double meaning!) Lisboa (Abr10)"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

2 exposições...

Exposição "Gigante" de Francisco Tropa
(ex-aluno e ex-responsável do departamento de Escultura do Ar.Co)
na Galeria Quadrado Azul - Lisboa

Largo dos Stephens, 4, 1200-457 Lisboa
Dias 5,6,7 e 8 de Maio das 21h30 às 24h
http://www.quadradoazul.pt/
 
 
Inaugura Sexta-feira, 7 de Maio, a partir das 19h, a exposição "Correspondência #2" de Ana Hatherly (ex-professora no Ar.Co) e António Poppe (professor e ex-aluno do Ar.Co) na Arte Contempo

Rua dos Navegantes, 46 A, 1200-732 Lisboa
Patente até 27 de Junho
Horário: 5ª a Sábado das 14h30 às 19h30
http://www.artecontempo.org/