A primeira vez que visitei a
Comuna tinha 15 anos e estava no 10º ano, fui com uma professora de Filosofia ver uma peça trabalhada a partir de Gil Vicente, eram grupos pequenos entre 10 a 15 pessoas que desciam para uma sala e lá personagens e público misturavam-se intrinsecamente, o palco era a sala em constante reinvenção, a peça, os dialogos a relação público-teatro, fizeram-me ver o teatro de outra forma. E falo da Comuna por 2 motivos: o primeiro
A Palavra dos Poetas, que decorre há já alguns anos, escolhendo um autor português todos os meses, sobre o qual se vai trabalhar, contextualizando a obra, cuja dramaturgia e escolha pertence a Carlos Paulo, acompanhado por um único músico que é responsável pela sonoplastia recorrendo a vários instrumentos.
A entrada é livre, acontece às quintas, às 19h no café-teatro, tem a duração de cerca de 60 minutos e este mês trabalha-se o poeta Manuel da Fonseca com uma homenagem a Maria Barroso, em Março será Agostinho da Silva...
O segundo motivo é a peça que está em cena,
A Felicidade, Amanhã, que parte dos dramatículos de Samuel Beckett nomeadamente Não Eu, Play e Acto sem Palavras II, a coisa foca-se nestes dramatículos que dão consistência à ruptura de Beckett com a própria obra e o teatro do séc. XX, e ganha corpo sobre "qualquer coisa" como isto:
"
Terra, buracos, paisagem, mesas, contentores, latas, água, líquidos, pedras. Um homem nu que executa ações confinado a um espaço; um homem registra em áudio memórias, canções; uma boca vocifera um discurso de forma estonteante; três cabeças enterradas falam sobre a sua vida sem se relacionarem; dois homens executam tarefas à vez, partilham a mesma roupa, porque sim, é inevitável. Não há princípio nem fim apenas o meio..."
Quartas e Quintas às 21.30 com o preço único de 5 euros, até 27 de Março.
Imagem e excerto: Comuna
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