quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Rebecca Horn

O meu primeiro real contacto com aquilo que é o processo de trabalho de um artista e daquilo a que posso chamar de "impulso investigador" deu-se na exposição desta artista alemã, há uns anos no CCB, levou-me a perceber um tanto de coisas e ajudar-me a tomar direcções, e perder pudores entre experimentar ou não este ou aquele registo porque não "domino" tal.



Rebecca Horn inicia o seu percurso na década de 60, época em que a expressão e a forma do corpo eram o principal interesse artístico. Aluna de Joseph Beuys, que a influenciou claramente, começa a sua derradeira obra ao mesmo tempo que passa por um grave problema de saúde que a leva ao isolamento num hospital, esta restrição de contacto com o exterior e as experiências pelas quais passa,  fá-la começar a trabalhar numa série de desenhos, que acabam por ser estudos para peças que irá executar quando dalí sair, essas peças debruçam-se sobre restrições físicas impostas de variadíssimas maneiras. A influência de artistas como Paul Nougé ou Man Ray, de escritores como André Breton, Oscar Wilde ou Raymond Rossel, estão presentes, assim como a colaboração não só com escritores mas também com compositores.
No início, o corpo fragilizado onde entrevem, e mais tarde, o corpo autónomo e austero que entrevem sobre o espaço. Rebecca começa por trabalhar numa espécie de próteses que constrói e veste para explorar outras formas de sensibilidade ou "reduzir" o seu possível contacto com o exterior, e trabalha isto em performances intrinsecamente relacionadas com o lugar, fotografia, desenho, colagem e video, numa primeira fase, e depois chegamos à peça que para mim contém toda a tragectória de Rebecca Horn, até mesmo aos dias de hoje, se pensarmos nos desenhos de expressão livre que acaba por autonomizar.


Bleistiftmaske, 1972, é uma peça marcada por uma estrutura geométrica onde na intersecção das linhas existem lápis, esta estrutura é vestida como uma máscara e Rebecca testa o rastro que os lápis deixam sobre uma superfície de papel, introduzindo ritmo, registando a performance em vídeo, o movimento robótico incutido na performance dá origem a uma nova questão: Porque não substituir o meu corpo por um mecanismo onde possa obter ao mesmo tempo uma performance gráfica?? E é assim que mais tarde surgem peças como esta:


Existe toda uma questão metafórica introduzida na construção destes mecanismos que nos catapultam para o universo femenino/masculino, para a questão do corpo e ainda o trabalhar em cima de dualidades como dia/noite (luz/sombra). Rebecca Horn referiu: "..as minhas maquinas não são maquinas de lavar, têm características quase humanas e também se transformam. Ficam nervosas e às vezes também precisam de uma pausa. Quando uma máquina pára de funcionar, isso não significa que esteja avariada, está só esgotada. Para mim, o aspecto trágico ou melancólico das máquinas é importante. Eu não quero mesmo que funcionem para sempre. Faz parte da vida parar e desmaiar." Existe portanto o aspecto aparentemente humano que é parte fundamental destes mecanismos. Estes dispositivos e intalações surgem no fim de 80 e inicio de 90 e "depois" deles, Rebecca, passa a trabalhar com o desenho, mas agora o desenho é autónomo, desenhos concebidos em grupos ou séries que prescindem do objecto, são portanto de expressão livre e gestual sobre o plano, fazendo uso do lápis em diferentes intensidades, lápis de cor, inscrições espontâneas, paisagens terrestres e cósmicas. Agora Rebecca insere o seu corpo, os seus movimentos, ritmos e desenha o contacto com o mundo interior e exterior levando-a a trabalhar um universo ilimitado. 

                                            
   


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